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sábado, 19 de maio de 2007

Quando Começei-Saudades das Ferreiras em Pesca de Alto Mar

Quando comecei,os meus primeiros passos na pesca de barco á cerca de 16 anos, se bem me lembro(Vitorino Nemésio se se recordam) ,foi em férias na zona da Fuzeta/Algarve,num lugar chamado Cidade sem Lei á beira da Ria Formosa.Esse lugarejo veio a ser o meu destino de férias nos anos a seguir ,só interrompido á cerca de três anos por destinos de vida diferentes, mas que em breve retornará a ser o meu local de férias preferido, ou eventualmente algures entre Tavira e Olhão.Quem não conhece,mas para quem gosta de Pesca e de natureza ,a Ria Formosa é dos melhores locais de vida marinha ainda preservada,nomeadamente ao nível de bivalves, crustáceos etc...é também um local de desova de várias espécies.Ali aprendi a apanhar berbigão,a conhecer as marcas da ameijoa e sua apanha,a apanhar casulo,minhoca da lama,lingueirão,conhecer os buracos dos ralos,apanhar minhoca branca,enfim uma série de iscos que se utilizam para a pesca.Fazer a maré é um habito daquela gente do mar,quer dos mariscadores,quer dos pescadores lúdicos da zona que apanham ali o seu isco para pescar.Um dia que não se vá apanhar um isco para pescar e garimpar naquelas areias e lodos,parece que já não é dia.Lembro-me que a minha vontade em pescar de barco era enorme,pois só pescava de terra,mas queria muito,ir para o mar.Tentei anteriormente ainda em Lisboa arranjar lugar numa traineira,mas pouca gente conhecia ligada ao meio,e quem eu conhecia achava que eu não tinha conhecimentos suficientes para integrar uma série de gente já de muita experiência e que só iria lá atrapalhar.Na altura conheci,um pescador local na cidade sem lei vou chamá-lo ficticiamente de António com quem fiz amizade, apenas e porque ele nem sonha que estou a falar dele, e não importa para o caso o seu verdadeiro nome.Mostrei-lhe o meu desejo em ir ao mar e ele na sua forma simples de ser me respondeu,quer vir ?olhe eu não costumo levar ninguém, mas assim ,sempre me faz companhia!esteja amanhã aqui as 5 da madrugada..
Dei um pulo de contente,despedi-me á pressa do António e dirigi-me ao carro,ao mesmo tempo apreensivo,pensando para os meus botões,e agora nem cana tenho,não tenho nada preparado,também pouco sei como devo pescar no barco,enfim passei por casa e em seguida, dirigi-me a Olhão,á procura de uma cana barata para pescar de barco.Acreditem que já nem me lembro da marca da cana, apesar de na altura eu já a conhecer ,de a namorar nas casas de pesca,sei que foi barata,mas lembro-me que era telescópica ,tinha 2 metros e qualquer coisa , as secções eram feitas de vara de madeira pintada,com uma ponteira já em fibra.E ás cinco da manhã ainda noite escura, lá estava eu num barco de madeira já antigo,com um motor de 8 cv desligado, descendo a ria pelos canais ao sabor da corrente da maré vazante,enquanto o António com o seu cigarro na boca,e aquele ar experiente,de homem do mar marcado já no rosto,moía berbigão com uma máquina a bordo que horas mais tarde vim a entender que era para engodar,pois não me atrevia a perguntar nada ,tal era a minha adrenalina no momento.O António sempre calmo seguíamos já com o motor ligado muito devagar na direcção da barra da fuseta na entrada para o mar.Quando estávamos a chegar,perto da entrada de mar,ali naquele local tive pela primeira vez a noção da força da água e do poder do mar,o António desligou o motor e parámos á deriva e ficamos ali sem ele nada dizer,até que eu perguntei não resisti,então algum problema?Não estou a espera que nasça o dia para passarmos a barra,pois está um pontadazinha de sueste e este motor é fraco,sempre saímos melhor a ver,mas elas não fogem!Estão lá a nascente.Fiquei sem entender nada mas fiz o meu papel,e calei-me fui-me entretendo a esticar a cana ,passar fio ,laçada para chumbada,e um estralho com anzol,era assim que eu pescava em terra,foi assim que para lá fui pescar,com a diferença que me tinham dito para por um estralho pequeno.Ele olhou para a cana e disse-me,você consegue pescar com isso?Eu disse-lhe pois não sei pescar de outra forma!além disso no barco é a primeira vez.Ele retorqui, olhe eu pesco com esta pesca de mão,com esta tança(fio de 1mm de espessura), e com este chumbo(à vontade 300 gramas achatado como se fosse um sabonete)Quer uma? é só meter o isco!Eu disse-lhe não muito obrigado,mas eu já estou habituado a pescar com cana,não iria saber pescar de mão.Você é que sabe disse o António tenho ai muitas pescas.Vamos largar ferro! disse depois de o ver em determinada zona medir a altura da profundidade com uma pedra atada a um cabo, vendo-o contar 8 braças de água.Larga um ferro á proa e vejo-o dar ré com o barco esticando o cabo,largou entretanto outro ferro,olhou para terra e esticou os cabos posicionando o barco na posição desejada deu os nós necessários e disse: É aqui!Podemos começar!Perguntei na altura porque colocou dois ferros ele disse é normal,assim o barco nunca sai da posição em que o deixei por acção da vaga ou algum vento que é capaz de aparecer lá do estreito(direcção do estreito de gibraltar/sueste).Olhei para a pesca dele e reparo num saco de plástico do arroz ,atado bem acima dos estralhos , apertado na base formando um cone agarrado á tança de 1mm,como se fosse tipo cartucho das castanhas mas mais largo e menos alto,que ele enchia com o berbigão moído depois de já ter previamente iscado os anzóis, e que anzóis com berbigão fresco.Tinha que começar a fazer perguntas e perguntei-lhe o porquê? Ele me disse com a cabeça baixa sem perder a atenção largando a pesca para baixo!é para engodar! o saco ao entrar na água fecha e ao bater o chumbo no fundo abre largando este berbigão moído,junto aos anzóis.Pensei para mim,olhá já aprendeste alguma coisa!Foi a primeira vez que vi, á 16 anos engodar o fundo com um saco de plástico.Bom caros leitores escusado será dizer só para vocês terem uma ideia,que o António deve ter apanhado mais de 60 ferreiras(a razão desta foto no post),até as 11 da manhã e eu por incrível que pareça só uma.Viemos embora na calma,o barco também não dava para mais,entramos na barra com cautela pois o sueste aumentava,e lá chegámos a terra seguros e tranquilos.O António disse-me: eu bem lhe disse,para você utilizar as minhas pescas,mas não esteja triste escolha daí as ferreiras que quiser e leve para a sua família,afinal você sempre me fez companhia e acrescentou!Olhe amanhã não porque o sueste está mais forte, mas cai durante a noite ,depois de amanhã á mesma hora se quiser vir novamente.Agradeci e perguntei-lhe António posso trazer uma pessoa de família que percebe mais disto que eu?Ele disse Claro que sim,o barco vai mais devagar mas nós também não temos pressa!Combinado.
Depois de contar a minha aventura em casa,tomar banho e almoçar,telefono para Lisboa para aquele que é o culpado do meu vicio de pesca,que eu vou chamar ficticiamente de Manel seguindo a mesma filosofia que o António.Convido-o para vir passar o fim de semana ao Algarve mais a família,vendo-lhe bem a ideia de que ele iria ficar maluco com o António a pescar , e disse-lhe que apesar de ele já fazer na altura competição iria levar um baile daqueles grandes!Ele como sempre com o seu ar disse:Vamos ver!.E lá estava eu dois dias depois mais o Manel ás cinco da manhã esperando o mestre António.Seguimos na mesma direcção no mesmo lugar,com os mesmos procedimentos feitos pelo António para fundear,e começamos a pescar.O mar estava mais calmo,as ferreiras levaram mais tempo a aparecer,o António tira três de seguida tudo na ordem das 300 gramas cada uma.O Manel olhou para o saco do António e disse:Há é assim?Então vou fazer o mesmo não há que inventar o que já está inventado.Mete a mão ao bolso,tira um saco de plástico devidamente dobrado e adapta o mesmo á madre da montagem, depois de uns acertos de tesoura, e de o prender com fio de nylon a um destorcedor,1 metro acima dos seus três anzóis,e vai de chumbada para baixo.Era a primeira vez que eu estava a ver uma montagem para a cana, com três anzóis.A pesca do António funcionava como mais tarde venho a aprender como uma rabeira,eu nem me atrevia a pescar com linha de mão,por causa da recuperação,e aquele amontoado de fio aos pés,que de certeza na altura se tivesse experimentado tinha sido uma desgraça.Bom o Manel eram três de cada vez,e chegámos ás onze horas tinha a geleira dele cheia,o António também bastante, mas menos peixe do que o Manel,não era preciso pesar para ver quem tinha mais.Diz o António:nunca pensei que você conseguisse apanhar tanto peixe com essa vara,realmente um dia tenho que pensar em mudar para a cana ,pois dizem que vai ser proibido pescar com estas artes.Eu entretanto evoluí, pesquei 4 ferreiras que já me deixaram muito feliz.O Manel tirou meia dúzia de peixes e ofereceu a maioria das ferreiras ao António que agradeceu,regressou a Lisboa e deixou-me uma montagem feita onde eu por aquela fiz mais duas,voltei ao mar com o António mais algumas vezes,engodava com o "pára quedas"e apanhei quantidades decentes que não me envergonhavam ao pé das do António,apesar de as “tecas”dele serem sempre superiores.As Ferreiras normalmente fortes em Agosto de ano para ano iam sendo menores em quantidade,havendo notícias de estarem mais para os lados de Tavira e na Direcção de Vila Real de Santo António,falavam que as águas estavam frias,nunca mais me lembro de ver apanhar ferreiras como naqueles anos iniciais,apanhei algumas grandes na Pedra do Barril nas beiradas anos mais tarde,mas nunca mais a oito braças de água,ouve deslocação do peixe para águas mais quentes para Espanha presumo.Foi assim o meu começo, e partir daqui o meu percurso, que me levou, bastantes anos mais tarde á competição, onde fui encontrar outra realidade!a necessidade de evoluir ainda mais para poder acompanhar os índices competitivos.Evoluir para chegar ao topo é outro desafio,já estive a meio do caminho,voltei a descer por outras razões externas à competição e á pesca de alto mar, para o ano vou começar a escalada novamente.Hoje a razão do blog tem a ver com a minha história,com a minha dificuldade naquela altura de obter informações,ajudas,ensinamentos,tudo era um segredo enorme,sofri um pouco senão dizer bastante, para aprender o sempre pouco que sei.Acho que não tem que ser assim,as coisas na pesca que fazem as diferenças entre pescadores nos resultados das provas não se conseguem explicar,é como a criança que se ensina as posições da escala de música numa viola ,requer depois muito treino,mais tarde se continuar vem o seu talento ou não!A existir fará a diferença.Saudades das Ferreiras.Até já.

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